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terça-feira, abril 25, 2006

o Charlatão

Dedicado a todos aqueles que lutam contra o asno da outra região autónoma portuguesa (que me perdoe a Associação Protectora dos Animais pela comparação).

O CHARLATÃO
(Sérgio Godinho)


Numa rua de má fama
faz negócio um charlatão.
Vende perfumes de lama,
anéis de ouro a um tostão.
Enriquece o charlatão.

No beco mal afamado
as mulheres não têm marido,
um está preso, outro é soldado,
um está morto, e outro ferido,
outro em França anda perdido.

Na ruela de má fama
o charlatão vive à larga,
chegam-lhe toda a semana,
em camionetas de carga,
rezas doces paga amarga.

No beco dos mal fadados
os catraios passam fome,
têm os dentes enterrados
no pão que ninguém mais come,
os catraios passam fome.

Na travessa dos defuntos
charlatões e charlatonas
discutem dos seus assuntos,
repartem-se em quatro zonas,
instalados em poltronas.

Para a rua saem toupeiras,
entra o frio nos buracos.
Dorme a gente nas soleiras
das casas feitas em cacos,
em troca de alguns patacos.

Entre a rua e o país
vai o passo de um anão,
vai o rei que ninguém quis
vai o tiro de um canhão,
e o trono é do charlatão.

É entrar senhorias
a ver o que cá se lavra.
Sete ratos, três enguias,
uma cabra, abra-cadabra.

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