Um voto em branco é um grito mudo de protesto. Poderia ficar calado, que ninguém sabia que tinha votado em branco. Tinha apenas descarregado o meu nome dos cadernos e toda a gente sabia que tinha votado, independentemente do tipo de voto que foi.
Se me tivesse abstido, aí toda a gente sabia que me tinha abstido, e saberiam que na sua pontuação (mania parva esta de chamarem "score" aos resultados eleitorais) não contava com o meu voto.
Mas então porque não me abstive? Esta era de facto a minha primeira inclinação, mas seria injusto para com os meus pais que tanto lutaram e ensinaram os valores da democracia. Votei porque quis, não porque fui obrigado, ao contrário do que acontecia antes do 25 de Abril de 1974 sempre.
Votei como quis, não porque me indicaram o sentido de voto. Este foi talvez o maior gozo que tive no Domingo. Foi saber que a educação que os meus pais me deram me permite concordar ou discordar deles quando quiser.
Um voto em branco não um voto inútil. É um voto de quem agradece a democracia, mas recusa qualquer um dos candidatos. Um voto em branco é o voto de quem quer responsabilidade na governação, mas não confia plenamente nos pretendentes a governo.
O meu voto em branco foi o fim de um ciclo de várias eleições em que votei a favor de uma lista, com medo que outra ganhasse. E medo foi uma coisa que se devia ter perdido em Portugal há 35 anos.
O regresso do Cowboy Cantor aqui (mp3 27,6 mb/30’11’’)
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