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A Minha Rádio Podcast: Cowboy Cantor

terça-feira, setembro 29, 2009

Declaração de voto

Um voto em branco é um grito mudo de protesto. Poderia ficar calado, que ninguém sabia que tinha votado em branco. Tinha apenas descarregado o meu nome dos cadernos e toda a gente sabia que tinha votado, independentemente do tipo de voto que foi.
Se me tivesse abstido, aí toda a gente sabia que me tinha abstido, e saberiam que na sua pontuação (mania parva esta de chamarem "score" aos resultados eleitorais) não contava com o meu voto.
Mas então porque não me abstive? Esta era de facto a minha primeira inclinação, mas seria injusto para com os meus pais que tanto lutaram e ensinaram os valores da democracia. Votei porque quis, não porque fui obrigado, ao contrário do que acontecia antes do 25 de Abril de 1974 sempre.
Votei como quis, não porque me indicaram o sentido de voto. Este foi talvez o maior gozo que tive no Domingo. Foi saber que a educação que os meus pais me deram me permite concordar ou discordar deles quando quiser.
Um voto em branco não um voto inútil. É um voto de quem agradece a democracia, mas recusa qualquer um dos candidatos. Um voto em branco é o voto de quem quer responsabilidade na governação, mas não confia plenamente nos pretendentes a governo.
O meu voto em branco foi o fim de um ciclo de várias eleições em que votei a favor de uma lista, com medo que outra ganhasse. E medo foi uma coisa que se devia ter perdido em Portugal há 35 anos.

O regresso do Cowboy Cantor aqui (mp3 27,6 mb/30’11’’)
Para ouvir no blog Danialice
Informações no Cowboy Cantor

13 comentários:

Arrastão disse...

Desculpem o abuso. Mas só para informar que o Arrastão está a fazer um inquérito às intensões de voto nas próximas autárquicas em 38 concelhos. Ponta Delgada é um deles. Se quiserem ajudar a divulgar... Obrigado.

Daniel disse...

Bem feito. E bem dito.
Um beijo. De teu pai, claro.
Daniel

Unknown disse...

"Bem feito.E bem dito".
Como diz o teu pai, claro.
Lia

Unknown disse...

E faltou o beijo.Este é meu.

MaesDoc disse...

Rodrigo

Não deixarei passar em claro/branco esta tua confissão, que compreendo, respeito e até certo ponto concordo.

Contudo só equacionarei esta forma de votar se no parlamento começar a existirem cadeiras vazias correspondentes à percentagem obtida por eles.

Até lá tentarei sempre, como até aqui, elevar ao poder, ou simplesmente dar voz, a quem penso que se aproxime mais da minha.

E desculpa destoar dos oradores que me precederam, mas daqui levas só um Abraço

Manel

Rodrigo de Sá disse...

Manel,
Reforço a ideia de não confiar plenamente nos que concorreram. Há claro partidos à direita e esquerda que vão ao encontro, no que dizem, das minhas principais ideias. No entanto, tenho andado com alguma comichão atrás das orelhas nos últimos meses, e não pode ser do meu Mini Schnauzer, que para além de ser muito bem ensinado, é limpo e asseado. Estas pulgas devem mesmo ser do Rato.

Luisinho disse...

Rodrigo,

Dizes que votas em branco como agradecimento à democracia, embora não concordes como ela está a ser regida. Se bem entendo, não aceitas a presente democracia mas fazes o jogo dela.

Rodrigo de Sá disse...

Não Luisinho.
Não aceito 4 anos de humilhação pública por parte do governo, de um partido do qual até já dirigente local, da classe docente, nem acho que outro partido merecesse o meu voto.
Para além disso, os eleitores eram obrigados a votar no partido do governo antes do 25 de Abril sempre.
Eu não jogo à democracia. Embora haja quem goste de brincar aos governantes, eu não vou por aí.
Jesus Cristo é que dá a outra face. Vou à missa, mas comungo se quiser.

Rodrigo de Sá disse...

"até já dirigente local", leia-se "até já fui dirigente local"

MaesDoc disse...

Rodrigo

Se o problema é dos clientes do Palácio que já foi pertença da familia do saudoso( para os benfiquistas) Borges Coutinho, não me parece que o papel em branco, com as regras eleitorais vigentes , funcione como factor para a mudança necessária, ou para substituir o cartão amarelo ou vermelho que se exige nos tempos que correm. Até porque branco ajuda , na melhor ou na pior das hipóteses , a branquear. Sem fechar Portas algumas. Antes pelo contrário.

E olha que antes do 25 de Abril sempre , o que se tornava complicado para a integridade fisica e moral era precisamente a abstenção usada como arma de luta e arremesso por muitos. E conto-te ainda mais um episódio sobre os votos desses tempos escuros. Provavelmente já é do teu conhecimento que antes das eleicções entre o Américo de Deus e o Delgado os boletins de voto eram distribuidos criteriosamente por entre os eleitores " eleitos"( um papel para cada candidato), dias antes do acto eleitoral. Dá-se o facto que houve alguém que foi votar Delgado e trouxe o outro boletim do Tomás que guardou em casa. Mais tarde numa busca domiciliária a Pide descobriu esse papelinho e como essa pessoa tinha realmente votado, foi passar um fim de semana na delegação de Santarém da Pide para esclarecimentos e averbamentos.
Acresce o facto que essa pessoa já era em 1958 meu pai e essa prova do crime ainda está em meu poder. Bem como, dos 18 concelhos que no país e provincias ultramarinas, deram a vitória ao General, Cartaxo foi um deles com quase 70% dos votantes, muito por fruto da fiscalização do Governador Civil de Santarém, um homem cá da terra, que na semana seguinte foi naturalmente e obviamente demitido.
Coisas dos tempos em que votar em branco, seria, provavelmente, demitir-se de muita coisa. Os tempos agora são outros.

Abraço

Manel

carmélio disse...

Rodrigo,

Os governantes desta democracia não estão separados dela. Dizer que os governantes são uma coisa e que esta democracia é outra coisa é pura retórica.
O problema não são os governantes, mas o sistema. Os primeiros são apenas o produto da primeira. Para te dizer mais, o sistema tem pouco de político, mas quase tudo de mercado, de financeiro.Por isso, votar em branco é fazer o jogo da presente democracia. A resposta é a abstenção.

Rodrigo de Sá disse...

Manel,
Alguma vez o seu pai teve dúvidas que quem era contra a Velha Senhora queria a libertação e desenvolvimento de um povo? Alguma vez o seu pai teve a certeza que a Velha Senhora queria servir esse povo, em vez de se servir a si em primeiro lugar.
Não comparando os sistemas, o que eu senti no Domingo quando votava era que quem lá está, quer primeiro o seu pão e depois hão-de dar a comer a quem trabalha. Os que lá querem ficar, não me convenceram que querem realmente dar a volta à questão.

Carmélio,
Acho que é esta a primeira vez que nos encontramos aqui. Bem-vindo (quero lá saber dos acordos ortográficos)
É como já disse: o grande prazer de votar em branco é o de poder escolher precisamente votar em branco. É poder aparecer lá. Sorrir para a mesa e pensar "Nem um de vocês leva um voto meu".
A abstenção é uma alternativa, mas teria de esquecer a história que o Manel contou, e todas aquelas que meus pais conheceram.

MaesDoc disse...

Ó Rodrigo

Nem tanto ao mar nem tanto à terra. O maniqueísmo nem sempre se adapta, a meu ver, à verdade das coisas. O que eu posso afirmar é que meu pai, e eu depois, bem mais tarde, tinhamos a certeza de uma coisa. A asfixia de um povo e de um país era tanta que era necessário e urgente aumentar a tribo de quem o combatia( que todos sabemos que era diversa e nem sempre a ideal). Picando fortemente o ponto com marcas indeléveis da nossa presença.

Votar branco no contexto actual é o mesmo que dizer que o Sócrates vai ter possibilidades de encostar-se às Portas que quiser e quando quiser, continuando a sua politica de destruição do mundo do trabalho e do estado solidário com os que nem na ultima carruagem já têm lugar nesta viagem para o mundo do grande capital .

Não vejo a coisa de outro modo, embora entenda os teus argumentos.

Um abraço( e o que é que te deu para me tratares por " você" ?)

Manel