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A Minha Rádio Podcast: Cowboy Cantor

segunda-feira, setembro 17, 2012

Declaração antecipada de não-voto.

Já votei em branco, já contribui para a contagem de votos nulos, como também já saí de casa em dia de eleições para deixar o pepelinho em branco. E não vou mentir, já me abstive. Nunca intencionalmente, mas também já me abstive. E já marquei convictamente a minha cruz num partido. Num partido apenas votei até hoje. Quando voto num partido, tem sido sempre o mesmo, ou para continuar ou para mudar.
Mas desta vez, estou cansado de pedir continuação ou mudança, e não mudar nada. Por isso, antecipo desde já um não-voto. O próximo partido vencedor das eleições regionais não vai ter o meu voto. Não sei se algum partido irá recebê-lo. A tentativa de tornar a manifestação do dia 15 de Setembro em Ponta Delgada, numa iniciativa partidária, mostrou-me claramente que poucos merecem o meu voto.
Votar na mudança? Estou cansado. A mudança que vote em mim primeiro, que eu depois voto na mudança quatro anos depois. Votar para novas políticas e ideias? Não é isto que temos feito? Então, façamos assim: as novas políticas e ideias entram em acção, e eu então ajudo à reeleição dos senhores.
Perdi a paciência e a crença na política portuguesa. E porque os Açores são Portugal, perdi a paciência na política açoriana. E se algum dia os Açores deixarem de ser Portugal, eu acampo na marginal de Ponta Delgada até receber asilo no consulado da Suécia.
São jogos de poder, interesses pessoais, submissões, lambe-botas e mesquinhice, sempre em proveito dos mais-que-tudo poderosos, cúmplices ou não da mesma filiação partidária. E há também aqueles que trocam de discurso conforme acordam para o poder, ou para a oposição.
Não, não irei votar no vencedor das próximas eleições regionais. Não irei votar no próximo primeiro-ministro também.
Há uma linha que separa a política portuguesa do meu voto, e esta linha é muito mais larga que a cintura e vaidade de alguns dos próximos deputados regionais.

terça-feira, maio 29, 2012

Assistente Operacional

Não haja ilusões, este artigo é sobre contínuas. E digo contínuas, porque quando há nas escolas contínuos, estes normalmente ocupam lugares de grande importância, como a da chefia de pessoal não docente, porteiro ou até guarda-chaves. Podem também ser aquelas pessoas que estão sentadas na sala dos contínuos à espera que alguém apareça e diga:
- O senhor contínuo pode vir ajudar-nos a acartar as mesas?
Bom, contínuas. Esta figura sempre presente na escola, e que por isto mesmo decidiu-se passar a chamar de auxiliar de educação, como se numa escola só acontecesse educação.
Agora, aliás, no início do ano lectivo passado, fomos informados que passariam a chamar-se assistente operacional. E porquê? Nunca consegui perceber, tal como não consigo perceber muitas outras coisas, que até o próprio Presidente da República também não percebe, mas este tem muito queijo de 2 quilos de São Jorge para comer, para um dia poder perceber que ainda existe, e só depois perceber o que é isto de república, Portugal, cidadão ou honestidade.
Hoje disseram-me que chamam-se assistentes operacionais, porque pretende-se que sejam pau para toda a obra. Estou a citar, mas a expressão é popular, e há uma coisa que se chama figura de estilo. E dentro das figuras de estilo existem a metáforas. E cabe à astúcia do escritor usar as figuras de estilo de forma minimamente responsável, para que o leitor perceba que a expressão não é literal. Quando há necessidade de recorrer às aspas para as figuras de estilo, sinto-me mais ou menos como um angolano quando confrontado com o acordo ortográfico como forma de facilitar a comunicação com o Brasil: mas vocês estão a chamar-me de burro? Não acham que eu percebo?
Pois então, este pau para toda a obra serve para decidir se um professor está ou não atrasado, e marcar-lhe a respectiva falta no caso de se decidir pelo atraso. Entrar numa sala de aulas sem bater à porta para entregar pedidos de substituição, mas antes de entregar o documento, diz em alto e bom som que substituição é, porque teve a amabilidade de ler todo o papelinho antes de o entregar. Poderá também a senhora operacional decidir se a reunião deve ou não prolongar-se, porque quer fazer as limpezas à sala e ir-se embora, porque não é paga para fazer horas extraordinárias. É mais ou menos isto o pau para toda a obra, não é?
É este o pau para toda a obra, que é ser tudo, menos o que lhe inerente à profissão: ser contínua.
Não são nem auxiliares de educação, porque eu fui preparado para educar sem necessitar de auxílio, nem são também assistentes operacionais, porque nem eu preciso de assistentes, nem muito menos sou um técnico que opera de acordo com um determinado pressuposto, e age de forma automática, porque sei de cor todas as regras, contra-regras e estratégias a aplicar perante uma situação.

terça-feira, abril 24, 2012

Enquanto Houver Memória, Há Força

Nota prévia
Estava a escrever o rascunho deste artigo, enquanto esperava pelo José Couto, e sinto a porta abrir-se:
- Então Zé, estás bom?
- Olha, estou um pouco triste.
- E estás triste porquê?
- Não gostei de saber que o Miguel Portas morreu.
Nem eu. E não sabia ainda. Portanto, e como já tinha o texto preparado, este artigo vem em memória de Miguel Portas e toda a malta que acredita.

Nunca sei se sou eu que tenho sorte em ter os alunos que tenho, se são os meus alunos que têm sorte em me ter como seu professor. O Professor de Música, como muitos dizem.
Tenho colegas que sentiram o Estado Novo, viveram o Estado Novo, sofreram com o Estado Novo, e nunca abordaram, ou pelo menos não admitem que já abordaram o 25 de Abril de 1974 nas suas aulas. Nasci 4 anos depois. Não senti, mas há pessoas com memória que me contam histórias. E pelos vistos aos meus alunos também.
Estava a dar mais uma aula sobre a relação da música com a revolução de Abril, e ouço na sala ao lado novamente o My Heart Will Go On mais ou menos bem tocado pelas 24 flautas dos alunos que compõem a turma. Que vontade é esta de cumprir programas, que não deixa uns minutinhos nem que seja para cantar a canção da gaivota? Dos 5 aos 16, cada um que me passa pelas mãos canta a gaivota, canta outras coisas e ouve algumas histórias.
A revolução de Abril trouxe coisas muito boas. Algumas más, é certo. E uma das coisas más que trouxe foi precisamente a liberdade de se escolher não falar da liberdade.
O Francisco tem 5 anos. Há muitos Franciscos com 5 anos. Mas este Francisco é meu aluno, tem uma mãe desempregada que, ou tem memória, ou conta-lhe algumas histórias.
Quase no final da aula:
- Professor? O Professor acha que amanhã as pessoas vão para a rua para pôr o governo mais baixinho?

quarta-feira, março 21, 2012

60 euros a menos ou a prostituição

Como é que é? Aumentam os cortes nos funcionários públicos, e aumenta também as despesas de estado? Como é que é aquela canção:
Entram vacas depois dos forcados,
que não pegam nada.
Soam brados e olés dos nabos,
que não pagam nada. (José Carlos Ary dos Santos in Tourada)
País de vacas, touros, cornudos, estarolas e aldrabões. Amanhã faço greve, porque ir trabalhar para não perder 60 euros é mesmo que andar na prostituição.

quarta-feira, fevereiro 01, 2012

A Violência contra o AO90

Desde Setembro que o sufoco é diário. O convívio dia após dia com esta nova grafia, documentos oficiais, comunicados internos, mesmo mensagens privadas de alguns colegas, à partida parecia-me algo que eu não iria ligar muito. Na verdade, não se trata de habituação. Trata-se mesmo de não gostar, de me arrepiar. E confesso: repulsa. A aplicação da nova grafia em documentos de estado, torna a Língua Portuguesa de Portugal indecente na sua forma escrita.
Há dias quase que uma colega minha sentiu-se envergonhada com a pergunta que me fez. A respeito das duplas grafias agora permitidas (passa pela cabeça tentar unificar, mas permitir a dupla grafia? Aliás, criar duplas grafias que não existiam), ela pergunta-me:
- Sek - tor? Onde aprendeste isto?
- Na escola primária, com o meu professor?
O ar de desprezo dela foi notório:
- Com o teu professor? E quem foi o teu professor?
- O meu pai.
Pior foi o outro colega que me diz:
- Mas olha que facto é sem C.
- Então como é que eu vou dizer o C de facto, se não o escrevo?
- Olha, não sei. Mas facto é sem C.
A luta contra o Acordo Ortográfico está a entrar em alguns exageros que fazem lembrar a forma como decorreu o processo das violações com os rapazes da Casa Pia. Sim, foram violações, não foram relações sexuais com menores. Foram violações, logo os culpados são violadores, e no entanto alguns deles aparecem com os dentes todos e bem branquinhos nas televisões a sorrir e a dar entrevistas sobre tudo menos uma coisa. Durante o processo, foram usados todos os nomes de figuras públicas que se lembraram, o que a certa altura descredibilizou todo o processo.
Mas voltando aos argumentos contra o Acordo Ortográfico, há pessoas que estão a usar todos os argumentos que se lembram contra o acordo. E muitos tomam-no como uma ideologia política, logo tornam numa luta política aquilo que de facto até é de carácter político, pois por mais do que uma vez que alguns políticos já afirmaram que se trata de um acordo político, mas na verdade, este pacto tem profundas implicações é na tradição, cultura e dia-a-dia das pessoas alheias à Assembleia e aos seus míseros ordenados de mais 2500 euros, que em alguns casos nem dá para as despesas.
O presidente do Governo Regional da Madeira insurgiu-se contra o acordo, chamando a esquerda portuguesa de folclórica. Os deputados do PSD Açores pedem a revogação, explicando que se trata de uma herança socratiana. Logo, toca a abolir.
Lá bem longe está a minha defesa de uma ou de outra ideia. Na verdade o acordo ortográfico foi trazido novamente à baila pelo Governo relâmpago de Santana Lopes, e foi concretizado no tempo de José Sócrates. Mas nada tem a ver com ideologias políticas. Tem a ver com interesses políticos e uma luta popular. E o papel dos políticos é defender os interesses da população. Se assim, for, então acho muito bem que qualquer bancada partidária, seja de que assembleia, se insurja contra o acordo, tendo em conta as reacções violentas da população em geral.
Acusaram-me de ser violento contra o acordo. Não me importo. Chamem o que me chamarem. A verdade é que aquilo que a RTP, a SIC, o grupo Impresa, muitos outros órgãos de comunicação social, mas sobretudo as directrizes para a aplicação do acordo nas escolas é por si só uma violência.

terça-feira, janeiro 17, 2012

Pré-aprovado com crédito ilimitado

Uma aluna de quinto ano, repetente, principalmente devido a uma assiduidade regular: Ou seja, vem dois dias, falta três. Durante 3 anos pertenceu a uma turma de oportunidade. Tem portanto, 14 anos. Idade e corpo desenvolvido, os outros, ainda com atitudes de 4ª classe, elegem-na como delegada de turma.
Conhecendo-a de outras paragens (as tais turmas de oportunidade) aviso o director de turma que não vai dar certo. Concordámos em dar o benefício da dúvida.
O estado a que as coisas chegaram foi este:
Inquieto por saber como foram recebidas as seis negativas que ela teve, pergunto como foi o Natal:
- Eu recebi uma Playstation portátil, um leitor de mp3 e um iPhone. Ah, e a minha madrinha ofereceu-me um jogo para PSP.
- Belas prendas. O teu pai deve ter ficado contente com as tuas notas.
- O meu pai? Ele não sabe das minhas notas.
Com efeito, já vamos na terceira semana de 2012 e a aluna continua a faltar com a tal regularidade e o pai ainda não sabe as notas.
Não se preocupem que em Junho ele aparece a perguntar como é possível a filha perder de novo.

sexta-feira, janeiro 06, 2012

6 de Janeiro de 2006


Eu sei que a maioria de vocês não tem nada a ver com isto, mas também sei que alguns do que por aqui costumam passar seguem com relativa atenção o Cowboy Cantor
No dia 6 de Janeiro de 2006 foi gravada e publicada a primeira emissão do podcast. Dias mais tarde fiquei a saber que era o primeiro podcast dos Açores. Hoje, segundo o que sei, continua a ser o único podcast açoriano de produção independente. Não estou a contar obviamente com algum podcast que faça parte de alguma rádio açoriana (que mesmo assim não abunda nem em quantidade, nem em regularidade). Devido ao Cowboy Cantor, sou também o único membro português na Association of Music Podcasting.
Pelas audições, sugestões, comentários e acompanhamento, um grande obrigado. É bom saber que estão do outro lado do Quarto Estúdio.

terça-feira, janeiro 03, 2012

Tenho de andar mais contigo. Não tomas drogas

Foi assim que a conversa terminou:
- Eu sei que se andar contigo não vou ter recaídas. Quando muito bebemos uma cerveja a mais, mas naquela merda não toco se estiver contigo.
A conversa terminou não tanto pelo facto de ele ter acabado de declarar amizade. Mais pelo facto de eu ter ficado emocionado com a frontalidade e à-vontade com que falou da sua recuperação. Ainda lhe dei um soco no peito, para ver se estava mesmo rijo. Como antigo jogador de andebol que é, com certeza que ainda teria um peito duro. E recebeu a agressão com um grande sorriso:
- Está duro, não está? Eu estou rijo.
Já outra situação parecida me aconteu com outro amigo meu. Em pleno internamento para recuperação, e aproveitando a visita da mãe, diz-lhe:
- Para a próxima trás uma fotografia do Rodrigo.
- E é só do Rodrigo que queres? Não queres dos teus amigos com quem andavas?
- Eles não eram meus amigos. Eram só companheiros. O Rodrigo é que é meu amigo.
Eu olho para 2012 a pensar nestas coisas, ouço o melhor álbum de 2011 (segundo O Rapaz do Cavaquinho) e digo-lhe:
- Podes vir com a fama de que vais ser difícil, mas o meu mundo não acaba enquanto estiveres por cá. Aguentas-te comigo 2012? Olha que tenho muitos amigos.