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terça-feira, abril 24, 2012

Enquanto Houver Memória, Há Força

Nota prévia
Estava a escrever o rascunho deste artigo, enquanto esperava pelo José Couto, e sinto a porta abrir-se:
- Então Zé, estás bom?
- Olha, estou um pouco triste.
- E estás triste porquê?
- Não gostei de saber que o Miguel Portas morreu.
Nem eu. E não sabia ainda. Portanto, e como já tinha o texto preparado, este artigo vem em memória de Miguel Portas e toda a malta que acredita.

Nunca sei se sou eu que tenho sorte em ter os alunos que tenho, se são os meus alunos que têm sorte em me ter como seu professor. O Professor de Música, como muitos dizem.
Tenho colegas que sentiram o Estado Novo, viveram o Estado Novo, sofreram com o Estado Novo, e nunca abordaram, ou pelo menos não admitem que já abordaram o 25 de Abril de 1974 nas suas aulas. Nasci 4 anos depois. Não senti, mas há pessoas com memória que me contam histórias. E pelos vistos aos meus alunos também.
Estava a dar mais uma aula sobre a relação da música com a revolução de Abril, e ouço na sala ao lado novamente o My Heart Will Go On mais ou menos bem tocado pelas 24 flautas dos alunos que compõem a turma. Que vontade é esta de cumprir programas, que não deixa uns minutinhos nem que seja para cantar a canção da gaivota? Dos 5 aos 16, cada um que me passa pelas mãos canta a gaivota, canta outras coisas e ouve algumas histórias.
A revolução de Abril trouxe coisas muito boas. Algumas más, é certo. E uma das coisas más que trouxe foi precisamente a liberdade de se escolher não falar da liberdade.
O Francisco tem 5 anos. Há muitos Franciscos com 5 anos. Mas este Francisco é meu aluno, tem uma mãe desempregada que, ou tem memória, ou conta-lhe algumas histórias.
Quase no final da aula:
- Professor? O Professor acha que amanhã as pessoas vão para a rua para pôr o governo mais baixinho?