Há uns anos, talvez em 2007, no máximo princípio de 2008, uma colega minha disse que isto ainda havia de correr muita tinta, mas sobretudo algum sangue. Não estava a ser irónica, nem a fazer metáforas. Estava literalmente a falar em sangue: "Há-de correr sangue". Dizia ela.
Em princípio eu não acreditei que as coisas fossem piorar tanto. Sobretudo porque acreditava que os responsáveis pela gestão do país começassem a pensar nisto. Era um ingénuo. Eu e muita gente.
Mais tarde, ao ver o panorama, comecei a acreditar que realmente as coisas iam piorar. Mas nunca pensei em sangue. Aliás, não acreditava nisto. Violência porquê? As pessoas hão-de conversar, falar e havemos de sobreviver.
A terceira etapa passou por perceber que isto poderia realmente dar em sangue derramado. Hoje esteve quase.
Já estou na quarta etapa. Aquela fase em que deixamos de perceber ou prever uma coisa, e começamos a desejar que ela aconteça. Há-de correr sangue, há-de haver vidros partidos, carros pelo ar, focinhos desfeitos. Mas aquela gente, os senhores, os Limas, Godinhos, Sousas, Coelhos, estes gajos (porque daqui para adiante é de gajo para baixo), estão a precisar que alguém lhes faça um tratamento facial gratuito. Talvez percebam certas coisas que já lhes tentaram dizer a bem.